"A HQ permite o voo livre da imaginação de quem lê e, principalmente, de quem cria".
KAZUKO KOJIMA HIGUCHI
Com frequência deparamo-nos com revistas em quadrinhos, como as da Turma da Mônica, do Pato Donald e demais personagens criados pelos estúdios Disney, de super-heróis como o Homem Aranha, Hulk, Capitão América e outros, sem lhes dar muita atenção. Elas lotam as bancas, estão em livrarias e até as bibliotecas públicas já estão reservadas para esse tipo de produção: as gibitecas.
Estão assim tão incorporadas ao nosso cotidiano, é quase natural não refletirmos sobre as histórias em quadrinhos enquanto "produto de nossa cultura, sua complexidade e suas implicações sociais e ideológicas" (Higuchi, 1997).
Tidas até recentemente como vilãs, por roubar às crianças o tempo de estudo e por, supostamente estimular a violência, sua situação hoje á outra. No momento em que a televisão e os jogos eletrônicos afastam mais as novas gerações do contato com o livro, os quadrinhos se colocam como um meio termo entre a imagem e a palavra.
Na linguagem dos quadrinhos encontram-se a "arte gráfica, a literatura e a agilidade do cinema" (Lovetro, 1993), o que lhe permite usar a imaginação criadora e, de certa forma ser um co-autor da história. E essa co-autoria não se restringe apenas à continuidade das sequências, mas inclui também criar os timbres das vozes e as entonações (porque lemos e vemos o personagem que fala), além de interpretar a acústica da ação (onomatopeias).
Por todos esses motivos, as histórias em quadrinhos perderam a conotação negativa que tinham e foram gradativamente sendo incorporadas ao universo pedagógico. Como um recurso importante, já aparecem integradas a propostas curriculares, sendo inclusive utilizadas em exames vestibulares.
Antes de iniciar as atividades com as HQs, converse com seus alunos perguntando-lhes quais personagens famosos de HQs conhecem, se costumam ler gibis, quais são seus preferidos e se já observaram que uma história em quadrinhos é uma narrativa contada de forma diferente, através de duas linguagens: o desenho e o texto.
Diga-lhes que o objetivo deste projeto é que todos conheçam e discutam os recursos utilizados nos quadrinhos e, principalmente, que criem seus próprios personagens e elaborem suas histórias.
Conte-lhes que as Histórias em Quadrinhos, como as concebemos hoje, são basicamente um produto cultural do século XX. Em épocas distantes, porém, havia produções semelhantes a esse tipo de manifestação artística.
Houve um momento que o homem primitivo, mesmo não sabendo escrever,registrava, nas paredes das cavernas, desenhos que representavam os animais e a natureza. Posteriormente, criou símbolos - pequenos sinais ou figuras - para expressar suas ideias e registrar o cotidiano.
Foram esses "registros" a manifestação mais remota de algo semelhante às nossas histórias em quadrinhos. Da mesma forma, as figuras egípcias, os murais fenícios, os afrescos de Pompeia e Herculano, as iluminuras dos copistas medievais, as pinturas renascentistas e até mesmo grafites compõem um vasto painel onde, iconicamente, se tem registrado a história da humanidade, como numa interminável história em quadrinhos.
FONTE:
ENSINAR E APRENDER - LÍNGUA PORTUGUESA MÓDULO 3