quarta-feira, 24 de julho de 2013

O CÉREBRO DO ADOLESCENTE


Recentes estudos sobre o cérebro humano, realizados através das análises de imagens obtidas com a Ressonância Magnética Funcional, alteram a visão que se possuía sobre esse órgão promotor das ações humanas e entre todas essas mudanças, as que parecem intervir de forma mais direta sobre o que se pensa em educação diz respeito ao cérebro do adolescente.
Não muito tempo atrás se afirmava que o cérebro humano apresentava-se extremamente plástico e mutável na infância, mas que se consolidava por volta dos doze anos e, dessa forma, o cérebro adolescente era praticamente igual ao cérebro adulto e as diferenças comportamentais entre ambos devia-se essencialmente a questão hormonal. Hoje sabemos que os hormônios contam – e muito – na intempestividade adolescente, mas pode a mesma ser ampliada pelo amadurecimento do córtex pré-frontal. Não parece importar para a natureza destas considerações a essência biológica dessas mudanças, e sim de que natureza são, e de que forma pais e professores podem intervir de forma positiva visando uma ajuda.
É sempre importante realçar que mudanças cerebrais ocasionam alterações comportamentais involuntárias e, dessa maneira, nenhum adolescente se transforma da forma como se transforma porque assim quer agir ou porque adora imitar colegas que assim agem, mas pela ação de processos orgânicos que não sabe explicar e não pode controlar. É por essa razão que bem mais útil que criticar e punir é compreender e ajudar.
Assim considerando, relacionamos algumas mudanças que a neurologia já detecta e sugerimos algumas práticas que podem constituir cooperação expressiva.

1. O cérebro das meninas desenvolve-se cerca de dois anos mais cedo que o cérebro de meninos e somente por volta dos vinte a vinte e dois anos é que esse desenvolvimento se equipara. Essa diferença claramente notada mostra que a maturidade chega bem mais cedo do lado das meninas e, muito antes que os meninos podem abrir mão de atento acompanhamento. De qualquer forma é sempre importante considerar o julgamento que o adolescente faz de si mesmo, respeitá-lo plenamente, ainda que sabendo que esse autojulgamento é sempre mais instável e, portanto, sujeito a bruscas alterações por parte dos meninos. Se a menina, entretanto, é coerente e mais cedo que o menino é também melhor arquiteta na capacidade em simular uma segurança que não sente e, por esse motivo, a presença do adulto sempre perguntando, interrogando, desafiando, propondo representa estratégia sutil de envolvimento e caminho sereno de abertura para “soltar” a vontade de falar e pedir orientação. É essencial que professores e pais ajudem os adolescentes a organizarem sua agenda, administrarem seu tempo e disponibilizarem-se em estar sempre prontos para ouvir, intervindo quando solicitado, mas é impossível esperar que a seriedade da condução dessa administração aconteça com igual intensidade em sexos diferentes;

2. De forma geral, no inicio da adolescência e até por volta dos 15 anos ainda crescem áreas cerebrais ligadas à linguagem, razão pela qual é a fase em que se percebe grandes progressos na capacidade de escrita e nos interesses pela leitura. Esse interesse, entretanto, estiola-se sem a ajuda de estímulos proporcionados por pais e professores que animem o adolescente à leitura, interrogue-os sobre o que estão lendo, despertem seus entusiasmos para a escrita, anime-os a organizar seus diários, que representam oportunidade excelente para acréscimo na qualidade da expressão e capacidade de reflexão através da conversa interior que tal prática impõe. Quando possível, é esse o grande momento para a aprendizagem de línguas estrangeiras.

3. O desenvolvimento linguístico aumenta os “diálogos interiores” do adolescente e, dessa maneira, conversando muito e sempre consigo mesmo, preferem evitar conversas com pais e professores, fugindo de relatos sobre suas ações, pensamentos e julgamentos. É nessa hora que cresce a importância de se estimular o que mais se evita, abrindo espaços para que apareçam “bons papos”, longas conversas com adultos e estes, nessa oportunidade, devem menos aconselhar e mais ouvir. Quem sabe ouvir, sabe sugerir que o adolescente reflita sobre o que fala e “empurrado serenamente a essa ação” pode completá-la de maneira progressiva e consciente. Mais importante que a certeza de se mostrar “bons caminhos” é a serena ajuda no sentido de se ouvir o adolescente, propondo que ele próprio busque esses caminhos.

4. Cérebros em mudança são sempre sensíveis a palavras, mas são ainda mais sensíveis a exemplos. Se impossível fornecer exemplo permanente de ação digna e de pensamentos altruístas, que ao menos possa se exaltar essa qualidade, convidando o adolescente a refletir sobre a ação admirável de personagens que assiste no cinema ou na TV, sobre ídolos que edifica das boas leituras que faz. Fazê-los falar sobre entes que admiram, constitui uma forma coerente de legitimar um exemplo ainda que fictício.

5. As rápidas mudanças no córtex pré-frontal ocasionam intensa agitação que se manifesta pela extrema ousadia e imprudência geralmente associadas a comportamentos irresponsáveis, muito mais nas intenções que nas ações. Horrorizar-se diante de respostas dessa natureza de nada adianta, como adianta muito pouco buscar uma repressão direta. Em circunstâncias como essas é extremamente válido solicitar a ajuda na construção de regras consensuais e mostrar-se árbitro rigoroso em seu cumprimento. Uma coisa é o adolescente aceitar regra imposta pelo adulto, outra coisa é assumir os efeitos e sanções das regras que ele próprio foi chamado a construir. Ainda que se rebele com palavras, todo adolescente admira o adulto coerente, firme ao exigir o que sabe de sua parte cumprir.
Pais e professores que facilmente se aborrecem com a imprevisibilidade adolescente, aborrece-se também com a imaturidade de certos patrões ou com a instabilidade de certos amigos, mas por serem patrões ou por acreditarem que importa preservar a amizade, sabem ceder e com tolerância compreender o outro. Quem sabe aceitar os desatinos de um patrão em nome do emprego que não pode perder e sabe aceitar as esquisitices de um amigo que adora preservar, sabe adaptar-se a um adolescente que muito mais que patrões e amigos vivem momentos involuntários de oscilações, que clamam por compreensão e amor.







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