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De repente, seu bebê fofo e rosado, que até então só inspirava
doces emoções, contorce o rosto, grita irritado e... crava as unhas em seu
braço!
Tudo isso só porque você o tirou de perto da escada ou não o deixou pegar
algo. Não importa a razão, a primeira vez que tomamos contato com a raiva do
filho pode ser assustador. Ficamos angustiados: como um bebê já pode ser tão
agressivo? Será que sua educação está errada? Ele será uma criança má? Ainda tem
saída? Conversamos com especialistas para saber a resposta dessas e outras
perguntas que passam pela cabeça (e o coração) dos pais nessas situações.
1. Por que bebês tão pequenos podem ser agressivos?
Até completarem 3, 4 anos, as crianças são desprovidas de recursos para lidar
com a frustração. Imagine um bebê cheio de curiosidade e desejos. Quando suas
vontades não são atendidas, surge um sentimento de decepção muito forte – e
rápido. Ele não sabe lidar com essa intensidade. Como não fala, não tem
argumentação e raciocínio, usa o físico para se manifestar. “A criança pequena
não tem competência cognitiva para trabalhar a frustração. Ela agride para se
defender do que sente e não entende aquilo como uma agressão. É instintivo”,
explica a psicóloga Rita Calegari, do Hospital São Camilo Pompeia, em São
Paulo.
A boa notícia é que, com o tempo e a educação que recebe, a criança aprende a
transformar essa raiva em um comportamento aceito pela sociedade – e por você.
Descobre uma maneira, uma válvula de escape para lidar com as frustrações, assim
como nós adultos fazemos na maioria das vezes. A notícia não tão boa é que,
depois dos primeiros dois anos de vida, aparecem outros fatores que levam à
agressividade. Um deles é a própria personalidade da criança. Algumas realmente
serão mais raivosas do que as outras e exigirão uma orientação mais profunda
para se adequar e direcionar essa energia para algo positivo.
Certos acontecimentos na família, como mudanças, separação, doenças e
discussões, assustam a criança e ela pode reagir, sendo agressiva. “Pode ser
algo muito inconsciente e angustiante, de funcionamento familiar, pais
enfraquecidos, submissão a avós, iminência de separação e outros sintomas de que
a família não está bem estruturada”, diz a psicóloga Daniela Rocha Paes Peres. A
criança fica insegura com o contexto familiar e descobre na agressividade uma
forma de sinalizar que precisa de atenção, explicações, carinho e até limites
para se sentir bem novamente.
O pequeno também pode ser hostil porque imita os adultos que a cerca. Muitas
vezes, não nos damos conta de como podemos ser violentos no dia a dia. Na hora
de comemorar um gol, quando aproveitamos para nos manifestar sobre o adversário
ou na hora de reclamar do vizinho que está dando uma festa. A criança está
sempre ali, observando nossas reações, aprendendo com elas. E mais uma vez, como
não sabe argumentar, traduz a energia agressiva que quer imitar para o físico,
batendo, mordendo, chutando.
2. Criança agressiva é culpa dos pais?
Os pais devem se sentir responsáveis pelo filho, mas não podem achar que
serão capazes de moldá-los completamente. Uma criança de temperamento mais
agressivo não mudará totalmente. O que muda é que, com a educação, os pais
ajudarão a perceber o quanto ela perde com certas atitudes. É preciso lidar com
a personalidade dela.
Mas, em alguns casos, a família pode estar incentivando essa atitude. Isso
acontece quando a criança os imita. A agressividade do filho pode ser reflexo
direto de uma identificação com um adulto. “Se o pai dirige de maneira violenta,
xingando e fechando os outros carros, esse é o modelo de masculinidade que o
filho vai receber. Uma família mais agressiva, com pais muito bravos, virulentos
em suas palavras, transmite esse modo de funcionamento aos filhos. Fica natural
se comportar dessa maneira”, explica Daniela Peres.
Outro descuido comum que pode gerar o comportamento raivoso da criança é a
falta de limites. Sim, educar é difícil, dizer “não” milhares de vezes ao dia
pode parecer insano, mas é necessário. Apesar de aparentar o contrário, filhos
que fazem tudo o que querem ficam inseguros, querem a proteção de um “não pode”,
a orientação dos pais. Mesmo bebês de apenas 2 anos já mostram a sua raiva para
sinalizar a falta de limites.
3. Como lidar com a agressividade do seu filho ?
Em primeiro lugar, vem o clássico que todos os pais já ouviram: é preciso
paciência. E lembrar que, apesar da intensidade que a agressão parece ter – não
é fácil levar uma mordida do filho no auge da irritação –, estamos lidando com
crianças, com emoções primitivas, com seres que mal entendem seus sentimentos e
suas ações e dependem de nós para aprender a lidar com tudo isso. No mais, é a
causa que vai mostrar a melhor maneira de administrar a situação.
Um bebê que ainda não sabe o que fazer com a frustração precisa aprender que
não conseguirá o que quer gritando, arranhando ou mordendo. Os pais vão mostrar
isso falando firmemente que não gostaram daquilo, que doeu, que é feio agir
assim. Pode parecer que não, mas crianças de 1 ano já são capazes de entender
sinais básicos,, como a cara chateada da mãe, e associar que aquilo foi uma
reação a determinada atitude. Você vai falar uma, duas, dez, 100 vezes. E vai
falar nos dias que estiver feliz, descansada, mas também naqueles que foi
ameaçada de demissão, no que discutiu com o marido, quando foi abandonada pela
empregada. E é nesses momentos que aparece o perigo de se esquecer de educar e
simplesmente reprimir. Qual a diferença entre os dois? Quando educa você diz:
“Bebê, a mamãe não gostou. Não faça mais isso”. Na repressão, você berra “como é
possível você não entender que não pode fazer isso depois que já falei mil
vezes!”, como se estivesse tratando com um adulto. “As consequências de uma boa
educação demoram a aparecer e temos de repetir as regras todos os dias por
muitos anos. Já a repressão tem resultado imediato, deixa a criança sem ação,
com medo e por um tempo ela não repete o erro. Mas também não evolui, não
reflete, não aprende”, diz Rita Calegari. Há dias que falar calmamente com uma
criança exige uma extraordinária força de vontade. Mas lembre-se de que educar
realmente dá trabalho. Se estiver muito fácil, você pode estar no caminho
errado.
Quando a causa é uma mudança no contexto familiar, o melhor é conversar com a
criança. Antes de exigir uma mudança, seja honesto, faça-a se sentir confortável
e segura, apesar da situação. E, de novo, explique que as atitudes agressivas
não são legais e não vão resolver os medos dela. Caso o motivo seja a imitação
do que ela vê em casa, a mudança deve começar pelos pais. Eles devem rever suas
maneiras, seus valores, entender que no mundo dos adultos sua forma de agir pode
até estar no limite da civilidade, mas que, quando se trata de educar uma
criança, tem de ser diferente e melhor.
Um fato que merece atenção: como já foi dito, as crianças pequenas não sabem
discutir. Em uma luta por brinquedos com outra criança, por exemplo, é muito
natural surgirem chutes e mordidas – é a forma que elas encontram para expressar
seus desejos e suas decepções. “Esses comportamentos são normais e é importante
que o adulto não amplifique seu significado. Se essa atitude ficar restrita a
esse momento de vida, basta mostrar os limites de forma tranquila”, explica
Ricardo Halpern, presidente do Departamento de Saúde Mental da Sociedade
Brasileira de Pediatria. Isso será um sintoma de algo mais grave se for muito
repetitivo e se a criança continuar irredutível mesmo depois de o contexto
familiar mudar. Pode ser, então, a hora de procurar ajuda com algum
especialista.
4. E quando o seu filho vira o vilão?
O seu filho é o que morde, chuta e bate? Essa é uma situação delicada para os
pais principalmente porque eles vão lidar com a idealização do filho. Queremos
uma criança perfeita. E na vida real temos alguém com qualidades e defeitos
imprevistos. A tendência, lógico, é não admitirmos os defeitos. Ou ir ao outro
extremo e acreditar que a criança é má. “Não descarto que elas podem ser
maldosas, mas esse é um conceito muito pesado quando se trata da infância.
Muitas vezes, os pais acham que há algo errado, mas nem tudo é sinal de sintoma.
Pode ser apenas uma fase”, explica Rita Calegari.
É importantíssimo não criminalizar o filho. É preciso conter os seus atos,
mas lembrar sempre que se trata de uma criança em formação. Tem de ser tratada e
não excluída, inclusive na escola. Mas a rejeição pode ocorrer. Por isso, é
importante também os pais serem sinceros com os pais dos amigos, não se
colocando nem na posição de envergonhados nem serem arrogantes, tentando
defender-se das críticas que podem surgir. Lembre: estamos falando de bebês que
ainda estão aprendendo a conviver com os outros. “Nessa situação, a criança
precisa ser alertada sobre as consequências de seus atos e esse é um longo
trabalho. Para isso, é preciso que a família não se contamine inteira num
circuito de agressividade para tentar parar a agressividade”, explica Daniela
Peres.
Segundo a psicóloga, essa pode ser uma ótima chance de os pais repensarem
como estão criando esse filho. Quando a própria criança crescer um pouco, será
capaz de entender por que é rejeitada. “Ao sofrer com isso, terá a possibilidade
de tentar mudar, já que experimentou um sofrimento que a faz entender o
sofrimento do outro”, diz Daniela.
5. E quando seu filho é a vítima?
A primeira opção que passa pela cabeça de um pai quando sabe que seu bebê
recebeu uma mordida do coleguinha do berçário é ir tomar satisfações com o outro
pai. Está certo. Mas lembre, mais uma vez, que são crianças tentando se
manifestar de alguma forma. Não é fácil e muitas vezes temos vontade de ensinar
o filho a revidar. E aí você estará ensinando a pior das lições: a de que o
outro tem razão em agredir, já que essa é uma atitude tolerável. Não! A melhor
saída é ensiná-lo a se defender, o que não significa necessariamente atacar de
volta, e sim não permitir a agressão. “Os pais de uma criança agredida precisam
ser mais maduros e entender que os filhos estão conhecendo algo que vão
encontrar na vida. Claro que protegemos e orientamos sempre uma criança. Mas não
dá para achar que nada de desagradável irá acontecer com eles. É coerente
tolerar e defender em medidas razoáveis”, explica Daniela Peres. Seu filho levou
uma mordida, mas não precisa ser a vítima passiva. É um bom momento de ele
começar a aprender que existem maneiras de se defender sem que tenha de se
tornar uma criança agressiva também. E terá a chance, inclusive, de mostrar isso
ao amigo agressor.
FONTE:
http://bebe.abril.com.br
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