Muito se fala sobre o
desenho infantil. Mesmo sobre o olhar de especialistas, para se analisar um
desenho é extremamente necessário ouvir a criança explicar o que ela desenhou. O
significado do desenho só terá valor se a criança tiver a chance de explanar
oralmente sobre ele.
Interpretações relativas a
cores precisam ser analisadas quanto à interferência no seu uso ou até as opções
acessíveis à criança. Muitas desenham de preto e são logo recriminadas, mas pode
ser por preguiça de apontar outras cores, ou por preferência naquele desenho.
Toda análise precisa ser questionada ao seu autor, por exemplo, uma criança que
aparentemente desenha cenas de violência, pode ser questionada quanto ao que
desenhou e relatar algum fato fictício, de um desenho ou notícia de TV do seu
modo de interpretação, o que é benéfico, pois esclarece a seu modo aquilo que
ela viu, não quer dizer que a traumatizou, apenas que chamou sua
atenção.
Crianças que desenham e tem
oportunidade de se explicar sem ser criticadas quanto a estética, tendem a
utilizar o desenho de forma positiva para expor seus sentimentos. Os sentimentos
infantis não devem ser diminuídos e sim respeitados. Mesmo episódios que
envolvem sofrimento devem ser extravasados pelas crianças através do desenho ou
verbalmente, para que elas possam interiorizá-los, além disso formar uma opinião
coesa sobre o assunto. Fugir do assunto ou podar essas formas de expressão na
criança só as tira um dos seus modos mais inocentes de interagir com seu mundo
fantasioso, que é o que a ajuda a formar seu mundo real.
Quando a criança apresenta
desenhos que merecem atenção especial, muito violentos ou envolvendo assuntos
delicados, caso uma boa conversa sobre o assunto não dê confiança necessária
para que ela lide com esse conflito é recomendável a visita a um psicólogo que
poderá analisar profissionalmente o assunto em questão. Nesse caso, o desenho
serve inclusive como um sinal de socorro da criança e deve ser atendido por um
especialista da área.
Normalmente as crianças
fazem desenhos bem significativos dos 5 aos 7 anos. Antes disso, seus traços não
são suficientes para demonstrar claramente seus pensamentos, mas se você der
oportunidade de explicação, desde os dois anos a criança é capaz de traduzir
seus rabiscos, que são denominados garatujas e devem durar até os 3 anos, em
média. A partir de então ela começa a desenhar figuras humanas circulares, com
braços e pernas saindo da cabeça, até conseguirem formar um esquema corporal
completo no rosto e envolvendo corpo e membros. É esperado que até os cinco anos
isso aconteça, junto com desenhos envolvendo todos os tipos de formas
geométricas, casas, carros, árvores e objetos simples.Ao iniciar o aprendizado
da escrita algumas crianças aos poucos se desinteressam pelo
desenho.
Dos 7 aos 10 anos é a fase
em que melhor se desenha. Após essa idade, sem o treino, o desenho fica
estagnado, com poucas evoluções, pois a criança já se sente capaz de se
expressar em grandes textos. Esses textos, diários e relatos feitos por volta
dessa idade, normalmente não são divulgados por eles, mas na maioria das vezes
em conteúdo tão revelador como os desenhos da fase anterior.Se os pais não
estimulam seus filhos e lhes dão oportunidade de contar sobre seus desenhos e
vivências dificilmente terão acesso aos textos que mais tarde seus filhos
produzirão. Essa confiança em saber que serão respeitados em suas produções se
inicia com os desenhos e se não é criado esse vínculo raramente os pais
conseguem "pescar" os conflitos dos seus filhos nas preciosas dicas que um
desenho ou uma produção textual revelará mais
tarde.
Texto de: Michelle Maneira, pedagoga, com
pós-graduação em psicopedagogia e especialização em tecnologias educacionais,
professora de educação infantil da rede pública.
FONTE:
http://mundinhodacrianca.blogspot.com
Gostei e acredito muito na questão de deixar a criança falar sobre seu desenho. Não há como fazer uma avaliação do desenho se não sabemos a intenção do autor.
ResponderExcluirAbraço e parabéns pelo belo texto.
Abraço!