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sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Dificuldades de Aprendizagem e Intervenção Psicopedagógica


Por Roberta Bittencourt Queiroz  Pedagoga e Psicopedagoga
Dificuldades de Aprendizagem e Intervenção PsicopedagógicaA aprendizagem é um processo dialético, que se dá através da presença de um objeto e envolve o que Piaget (1983) denominou de processos de assimilação e acomodação. Portanto a aprendizagem se desenvolve dentro de um campo de relações. Sendo assim, a origem da dificuldade de aprendizagem pode estar relacionada com o modelo de relação vincular que cada criança estabelece e que foi desenvolvido e articulado nas suas primeiras relações, num determinado contexto familiar. Esse modelo de relação vincular tende a ser reproduzido na escola.

As questões que envolvem as dificuldades de aprendizagem no contexto escolar se apresentam de forma complexa, pois ocultam inúmeras variáveis. A partir disso, percebe-se que não se pode desconsiderar que na realidade, a responsabilidade da aprendizagem não é só do aluno, e sim de todos os envolvidos na educação.

Historicamente, a intervenção psicopedagógica vem ocorrendo na assistência às pessoas que apresentam dificuldades de aprendizagem, tanto no diagnóstico quanto na terapia. Diante do baixo desempenho acadêmico, alunos são encaminhados pelas escolas e/ou famílias, com o objetivo de elucidar a causa de suas dificuldades.


É importante saber que as dificuldades de aprendizagem podem ocorrer por motivos orgânicos e emocionais. Por isso, é necessária a identificação, para que seja desenvolvido um trabalho educacional com intuito de ajudar. “A Dificuldade de Aprendizagem é uma síndrome bio-psicossocial a ser compreendida em pelo menos três constituintes básicas: a criança, a família e a escola” MATURANA (1993, apud FURTADO e BORGES, 2007, p.3).

As DAs mais conhecidas são a Dislexia, a Disgrafia, a Discalculia, a Dislalia, a Disortografia e o TDH ( Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade). Segundo Guerra (2002, p. 79):
As dificuldades de aprendizagem podem ocorrer junto com outras síndromes clínicas (como transtorno de déficit de atenção ou transtorno de  conduta) ou outros transtornos do desenvolvimento (como transtorno específico do desenvolvimento da função motora ou transtornos  específicos do desenvolvimento da fala e linguagem).

Existem muitas outras dificuldades, que podem levar o discente ao fracasso escolar e consequentemente a escola também, pois fica subentendido que a instituição não soube lidar com estes problemas. O aluno acaba se tornando uma criança triste e desmotivada, por isso se torna importante o diagnóstico e a ajuda, para que o discente se sinta encorajado a lidar com essas dificuldades.

As crianças com dificuldades de aprendizagem não são crianças incapazes, apenas apresentam alguma dificuldade para aprender. São crianças que têm um nível de inteligência bom, não apresentam problemas de visão ou audição, são emocionalmente bem organizadas, mas fracassam na escola.

Souza (1996) coloca que os fatores relacionados ao sucesso e ao fracasso acadêmico se dividem em três variáveis interligadas, denominadas de: ambiental, psicológica e metodológica.

O contexto ambiental engloba fatores relativos ao nível socioeconômico e suas relações como ocupação dos pais, número de filhos, escolaridade dos pais etc. Esse contexto é o mais amplo em que vive o indivíduo.

O contexto psicológico refere-se aos fatores envolvidos na organização familiar, ordem de nascimento dos filhos, nível de expectativa etc., e as relações desses fatores são respostas como ansiedade, agressão, baixa autoestima, atitudes de desatenção, isolamento, não concentração.

O contexto metodológico engloba o que é ensinado nas escolas e sua relação com valores como pertinência e significado, com o fator professor e com o processo de avaliação em suas várias concepções e modalidades. A autora ressalta que em consequência do fracasso escolar, devido à inadequação para a aprendizagem, a criança é envolvida por sentimentos de inferioridade, frustração, e perturbação emocional, o que torna sua autoimagem anulada, principalmente se este sentimento já fora instalado no seu ambiente de origem.

Para Fernandez (1990), quando o fracasso escolar se instala, profissionais (fonoaudiólogos, psicólogos, pedagogos, psicopedagogos) devem intervir, ajudando através de indicações adequadas. Para Strick e Smith (2001), a rigidez na sala de aula para as crianças com dificuldades de aprendizagem é fatal. Para progredirem, tais estudantes devem ser encorajados a trabalhar ao seu próprio modo.

Apesar de estudiosos proporem algumas medidas para amenizar ou até mesmo superar as questões referentes à DA, a causa do fracasso geralmente é atribuída somente ao aluno. Assim, por meio de justificativas como a deficiência emocional, cognitiva, motora, transfere-se ao aluno a responsabilidade pelo seu desempenho escolar, retirando da sociedade, da escola e do professor a responsabilidade pelo possível fracasso dos alunos (WEISZ e SANCHEZ, 2003).

Para Fernandez (1991), Weisz e Sanchez (2003); Smith e Strick (2001), um procedimento que determina as DAs, deve considerar se a criança teve a oportunidade adequada para aprender. É preciso considerar as oportunidades em que a criança adquire o conhecimento, ou seja, em quais contextos ocorrem situações de aprendizagem.

Assim, as ações pedagógicas podem ser refletidas e associadas a uma prática educativa dentro do contexto educacional coerente, as quais visam igualdade de oportunidades e de acesso ao conhecimento, mesmo para alunos menos favorecidos e considerados limitados por uma fraqueza que não lhes pertence.

Ao reconhecer a diversidade e multiplicidade do indivíduo inserido no contexto escolar, torna-se imprescindível uma prática pedagógica em que a escola possa permitir que seus objetivos sejam alcançados, porém por diferentes caminhos, assim o ensino poderia acreditar na potencialidade do aluno, ao invés de enfatizar suas dificuldades.

O enfoque psicopedagógico da dificuldade de aprendizagem compreende os processos de desenvolvimento e os caminhos da aprendizagem. Compreende o aluno de maneira interdisciplinar, buscando apoio em varias áreas do conhecimento e analisando aprendizagem no contexto escolar, familiar; e no aspecto afetivo, cognitivo e biológico.

Diferente de estar com dificuldade, o aluno apresenta dificuldades, revelando uma situação mais ampla, onde também se insere a escola, parceira no processo aprendizagem. Portanto, analisar a dificuldade de aprender inclui, necessariamente, o projeto pedagógico escolar, nas suas propostas de ensino, no que é valorizado como aprendizagem. A ampliação desta leitura através do aluno permite ao psicopedagogo abrir espaços para que se disponibilizem recursos que façam frente aos desafios, isto é, na direção da efetivação da aprendizagem.

O estudo psicopedagógico atinge plenamente seus objetivos quando, ampliando a compreensão sobre as características e necessidades de aprendizagem daquele aluno, abre espaço para que a escola viabilize recursos para atender as necessidades de aprendizagem. Desta forma, o fazer pedagógico se transforma, podendo se tornar uma ferramenta poderosa no processo terapêutico.

Para o psicopedagogo, a experiência de intervenção junto ao professor, num processo de parceria, possibilita uma aprendizagem muito importante e enriquecedora.

Descentralizado do aluno e deslocado para o ambiente institucional, o trabalho psicopedagógico amplia a possibilidade de intervenção junto a quem ensina. Pais, professores e especialista unem esforços na busca de soluções. Ninguém fica excluído da equipe de trabalho, soma-se assim, conhecimentos e experiências.

Fora da instituição, após a observação da criança no contexto escolar (sala e recreio), entrevista com a equipe pedagógica, anamnese com responsáveis pela criança, observação do material escolar, análise das dificuldades apresentadas e das origens das mesmas; o psicopedagogo inicia o processo de intervenção clínica, utilizando recursos e estratégias, objetivando-se a ajudar a criança a superar tais dificuldades.

Quanto aos atendimentos clínicos, são muito eficientes e constituem em encontros com elementos interventivos, como a caixa de trabalho e material disparador entre outros, de caráter lúdico, individual ou em grupos. São realizados jogos, brincadeiras, produções artísticas, contagem de histórias e outras atividades que permitam a expressão da criança e que forneçam possibilidade de análise e desenvolvimento de habilidades que esta possa necessitar de acordo com a avaliação diagnóstica. Fazendo sempre os registros e análises das anotações feitas para acompanhamento de todo processo.

A princípio, o psicopedagogo deve familiarizar-se um pouco com a criança, explicando toda a situação, apresentando os materiais que fazem parte dos atendimentos, estimulando-a a falar livremente e investigando sobre o que gosta de fazer, etc. Em seguida, deixá-la manusear os jogos, descobrir o que faz parte desses jogos e tentar ver se os conhece e se sabe jogar, se não, levá-la a pensar e descobrir como jogar, como fazer para aprender a jogar e assim com ela, ir descobrindo e lendo as regras, proporcionando a familiarização com esse instrumento. A cada novo atendimento, propor desafios para que ela supere e assim, fazer a intervenção necessária.

Acreditar que o problema de aprendizagem é responsabilidade exclusiva do aluno, da família, ou somente da escola, é, no mínimo, uma atitude muito ingênua perante a grandiosidade que é a complexidade do aprender. Procurar achar um único culpado para o problema é mais ingênuo ainda. A atitude que se deve tomar, enquanto educadores, desejosos de uma educação de qualidade, com um menor número de crianças com dificuldades de aprendizagens, é intervir psicopedagogicamente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

- FERNÁNDEZ, A: A inteligência aprisionada: abordagem psicopedagógica clinica e sua família. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.
- FURTADO, Ana Maria Ribeiro, BORGES, Marizinha Coqueiro. Módulo: Dificuldades de aprendizagem. Vila Velha- ES, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil, 2007.
- GUERRA, Leila Boni. A criança com dificuldades de aprendizagem: considerações sobre a teoria modos de fazer. Rio de Janeiro: Enelivros, 2002.
- PIAGET, J. A Epistemologia Genética. 2 ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983. (Coleção Os Pensadores)
- QUEIROZ, Roberta B.; SILVA, Márcia de Fátima R. Dificuldades de aprendizagem e o contexto escolar: um estudo de caso com um aluno do 3º ano do ensino fundamental. 2011. 35f. Trabalho de Conclusão de Curso (Pós-graduação em Psicopedagogia), Faculdades Integradas Unicesp/Promove de Brasília, Brasília-DF.
- SMITH, C.; STRICK, L. Dificuldades de aprendizagem de A a Z? um guia completo para pais e educadores. Porto Alegre: Artmed, 2001.
- SOUZA, E. M. Problemas de aprendizagem – Crianças de 8 a 11 anos. Bauru: EDUSC, 1996.
- WEISZ, T.; SANCHEZ, A. O diálogo entre ensino e aprendizagem. São Paulo: Ática, 2003.

FONTE:
 www.saudeclinicasintegradas.com.br



Um comentário:

  1. Belo texto! A questão das dificuldades de aprendizagem é polêmica e super desafiadora para alunos, professores, família... Tenho vários colegas com especialização em psicopedagogia, mas até mesmo para eles a questão é complicada, pois demanda tempo e espaço com atendimento individualizado, na minha opinião.
    Abraço!

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