O
afeto é um instrumento pedagógico que precede ao uso do giz e da
lousa, todavia, não se tornou anacrônico. O afeto é científico: ao
consumar o afeto, o cérebro recompensa o corpo por meio da liberação de
impulsos químicos que trazem a sensação de prazer e de alegria. Ser
afetivo não é ser adocicado. Ser afetivo é trabalhar com as qualidades
as emoções, os interesses e os sonhos. Homem algum vive sem sonhos,
pois eles despertam ações.
Em sala de aula, em termos práticos,
é trazer para o campo das atividades pedagógicas o interesse
e o amor dos atores da escola. Um aluno que ama aprender
aprende melhor; um professor que ama ensinar ensina melhor.
Porém, não podemos nos iludir achando que basta amar para ser
bom professor. Antes, se eu amo, eu estudo, eu pesquiso, eu
trabalho e, desta forma, adquiro instrumentos mediadores
essenciais ao exercício docente. A carga de amorosidade que
está em mim me faz ser um aprendiz do saber para exercer com
equidade o meu ofício. A carga de amor que está em mim me
faz interessado e responsável para descobrir alternativas nos
processos de ensino e aprendizagem. Igualmente, a carga afetiva
do aluno o faz irromper a lugares ainda desconhecidos de
aprendizagem e saber.
Se não podemos ser afetivos sem
adquirir os predicados necessários ao exercício docente, tampouco
podemos exercer a prática pedagógica sem os atributos do
amor. O que torna o homem feliz é o que ele possui de
qualitativo, que outorga valor inestimável a coisas frugais e
cotidianas. E sua maior expressão é o amor. O prazer e a
vida estão no interior do homem. Por isso, desejo mais justo
não há: o de ser feliz.
Quando pensamos em educação, há uma
troca que se fundamenta no desejo. O afeto está ligado ao
desejo, que surge de uma falta, de uma necessidade. A justa e
estreme necessidade de completamento. É para tal que nascemos.
Educadores, inevitavelmente, devem ser professores das matérias
inerentes a esse princípio indelével da raça humana.
Então, como funcionam os mecanismos
afetivos em sala de aula? Primeiramente, é preciso considerar que todo o
aluno precisa ser amado, aceito, acolhido. Isso já é uma ação
pedagógica. Em segundo lugar, ele precisa ainda ser ouvido,
compreendido em seus desejos e curiosidades epistemológicas, que
precisam ser estimuladas.
Um terceiro aspecto é a percepção
objetiva do nível de desenvolvimento do aluno; seu andamento
específico, seu ritmo de aprendizagem. Um quarto fator é o
tempo de trabalho nas atividades pedagógicas que poderá ser
mediado pelo afeto. Quanto mais o aluno se interessar pela
atividade, maior será o tempo depreendido nela.
Podemos afirmar, então, que o afeto
possui três dimensões: a pessoal, que desenvolve a autoestima
do aluno, revelando as raízes da motivação e do interesse; a
social, que estabelece as relações com aqueles que estão no
campo escolar e que podem tornar o ambiente estimulante para a
aprendizagem, pulsando vida, num espaço de expressão e de
experimentação; e, por fim, a dimensão pedagógica, que cria e
mantém os vínculos do aluno com o objeto de estudo,
possibilitando afinidade com o processo de ensino e
aprendizagem.
Com efeito, a partir do princípio afetivo
da atividade pedagógica, o professor encontrará recursos para o seu
trabalho em sala de aula. Não se trata de uma regra, mas de um caminho,
pois o afeto traz o interesse para os movimentos de ensino e
aprendizagem. Quais atividades o aluno gosta de fazer? Como utilizá-las
para desenvolver sua aprendizagem? São perguntas que irão ser
respondidas nesse percurso.
Ademais, na educação há a
possibilidade de uma formação considerando a função social e
construtivista da escola. Entretanto, o ensino dos conteúdos
escolares não precisa estar centrado nas funções formais e nos
limites pré-estabelecidos pelo currículo escolar. Afinal, a
escola necessita aprender a se relacionar com a realidade do
aprendente. Nessa relação, quem primeiro aprende é o professor e
quem primeiro ensina é o aluno. O afeto é um potencial
mediador dessa aprendizagem.
Sugestões de atividades:
- Jogos diversos, principalmente aqueles que trabalhem linguagem, matemática e conhecimentos gerais;
- Jogos e atividades que utilizem novas tecnologias digitais;
- Trabalhos individuais e em grupo envolvendo, por exemplo, música, pintura e desenho;
- Atividades esportivas individuais e coletivas;
- Pesquisas em distintas áreas do conhecimento sobre temas que o educando tem interesse;
- Atividades pedagógicas em que o aluno possa compartilhar com a turma o seu saber.
É bom ressalvar que tão importante
quanto propiciar as atividades é observar como o aluno se
comporta diante delas. Decerto, as tarefas na escola poderão
ter conceitos objetivos e subjetivos para que o aluno aprenda
de forma direta e indireta, desenvolvendo distintas áreas do
conhecimento.
Eugênio Cunha